sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Os efeitos especiais de King Kong

                                    

Quando King Kong foi produzido à área de efeitos especiais estava na sua infância e o que Willis O`Brien esperava atingir com Kong não tinha precedente.
Através de inspiração e invenção, O`Brien e sua equipe criaram imagens como nada que o publico havia visto antes. Kong foi um filme sem precedentes. Foi o principio real do grande espetáculo no qual efeitos especiais eram usados para conduzir a historia para criar o personagem principal do filme e para criar não só o espetáculo, mas também emoção.
King Kong foi a primeira vez que um personagem animado foi uma parte principal da produção.
Uma das razões pela qual é um filme fantástico é pela mudança do astro que essa coisa de espuma e pêlo de coelho é capaz de fazer na tela. Você acredita nele e tem cenas bem comoventes onde diz:”Ah, isso é... È bem... É como se quem estava dirigindo, estivesse dentro dessa marionete”.  
E o que é genial em King Kong é que ele não é uma marionete. Ele não é um efeito especial. Ele é um dos maiores personagens que já ganhou vida em uma tela de cinema. Você vai achando que vai ver esse monstro destruindo Nova York e acaba sentindo pena dele quando ele é morto. Pois ele e um efeito visual tão bem feito e essa foi a primeira vez que isso aconteceu.

Kong foi o resultado de uma colaboração, mas se Willis O`Brien não tivesse feito bem o seu trabalho, o que o resto fez não importaria. Pois o conceito todo daquilo foi:” Vamos fazer a platéia acreditar que esse macaco é real”.
Quando Cooper e Schoedsack estavam fazendo King Kong queriam manter um certo grau de segredo. A produção foi em segredo especialmente no que se referia aos efeitos especiais. Eles não queriam que as pessoas fossem ao cinema achando que a Oitava Maravilha do Mundo tivesse 45 centímetros de altura.
A informação divulgada ao publico estava completamente errada. Como um homem vestido de gorila escalando um prédio. Fay Wray recortada e colocada na mão quadro à quadro. Mas nenhuma dessas coisas foram como eles realmente fizeram.
Não só não queriam que as pessoas soubessem como foi feito mas também não  permitiram nenhuma filmagem de bastidores nas salas de animação. Por isso não existe nenhuma entrevista com Willis O`Brien, e é triste pois ninguém sabe quais foram suas idéias, o principio do seu trabalho e quais foram suas motivações.

King Kong foi meio que desenhado em grupo. Pois havia a esse conflito no qual O`Brien pensava: “Bem, acho que ele deve ser mais humano”. E Cooper achava:”Não, ele deve ser mais como um macaco”. E Cooper sendo o produtor, acabou vencendo.
Quaisquer adaptação é o que da a Kong a sua personalidade e seu status de astro. Pois ele é um astro de cinema.

As marionetes de Kong, assim como muitas das árvores em miniatura os dinossauros e todo o resto foram feitos por Marcel Delgado.
Ele era um garoto que estudava no Art Center e O`Brien o descobriu.
Ele conheceu Marcel em um super mercado e acabou vendo seu trabalho. Delgado foi relutante em ir trabalhar com O`Brien pois ele não achou que o trabalho fosse durar. O`Brien ofereceu a ele trabalho em o Mundo Perdido varias vezes e Marcel disse:”Eu não quero trabalhar nisso. Não quero filmes. Tenho um bom trabalho no mercado”.
E O`Brien teve que seduzi-lo com uma oferta de U$ 75 por semana para vir esculpir para ele. E mesmo assim, Delgado não queria aceitar até que um dia ele viu a oficina. Ele entrou e O`Brien disse:”Esta bem aqui, isto é tudo seu. Faça o que quiser”.

O realismo da marionete de Kong feita por Delgado foi essencial para o sucesso dos efeitos visuais do filme. Mas antes que Delgado pudesse esculpir o corpo de Kong, Willis O`Brien teve que desenhar e fabricar a armação da marionete. Uma armação é o esqueleto de metal que determina a forma básica de uma marionete de stop-motion e fornece as juntas articuladas que permitem a marionete se mover.
O departamento de apoio normalmente fazia as armações, mas porque Kong não tinha o apoio total do estúdio eles fizeram à primeira armação em segredo.
Willis O`Brien desenhou a coisa toda, ele era como um engenheiro, além de outras coisas. Então ele teve que inventar isso, pois nada como isso havia sido feito antes.

Ela era uma bela armação e a melhor que se podia encontrar.
Com a armação completa, o corpo de Kong foi construído por cima camada por camada com o processo de construção do látex usando malha de algodão e barbante.
Normalmente se usava uma proteção dentária de algodão na armação e usava-se linha de costura para amarrar o algodão. Basicamente criava-se os músculos moldando o algodão dentário ao redor do esqueleto.
E em baixo do pelo de Kong, existe um completo personagem com armação com todos os músculos. E às vezes colocavam mecanismos para respiração dentro deles. Como pequenos diafragmas de bola de futebol. E a razão para isso é que pode lentamente ser inflado ou esvaziado e quando isso esta no seu corpo, eles podem quadro a quadro fazer parecer como se estivesse respirando. E o algodão era coberto por uma borracha de látex para criar a pele final.
Produzir e manter o rosto de King Kong apresentou desafios especiais para O`Brien e Delgado. Pois ele tinha vários rostos diferentes. Ele muda muito durante o filme e às vezes ele parece bem esfarrapado. As luzes quentes e o próprio trabalho eram prejudiciais ao tipo de borracha da qual King Kong era feito. Pois era tudo feito de borracha e algodão dental e tudo mais, e tinham que reconstruir. A cada dois dias tinham que reconstruí-lo. Pois era um processo de construção ao invés de moldagem e ficava diferente a cada vez. E havia também varias armações diferentes para King Kong e elas tinham diferenças. Pois Kong tinha duas escalas diferentes.
Na selva da Ilha da Caveira ele devia ter uns 5,5 metros de altura. E Cooper disse: ”Já que Nova York é grande, o macaco deve ser maior”.
Uma versão de 60 centímetros de Kong foi feita para as cenas em Nova York aumentando a altura de Kong de 5,5 para 7,3 metros.
Apesar das historias variarem, sabe-se que, no total foram construídos pelo menos três marionetes de Kong. E fizeram algumas marionetes para simplesmente realizar a quantidade de tomadas que tinham. Se tiver mais marionetes de King Kong podem ter animadores diferentes filmando tomadas de Kong ao mesmo tempo. E as diferenças entre as marionetes é bem evidente na cabeça. Existem dois rostos diferentes e o chamavam de “rosto curto” e “rosto longo”.
O rosto longo é o que luta com o tiranossauro e derruba os homens do tronco. E é justamente essa marionete de rosto longo que ainda existe hoje.
Então fizeram uma segunda marionete que tinha um rosto mais arredondado.
O pêlo de King Kong provável mente foi feito com pêlo de coelho. E quando se vê a animação o seu pêlo esta sempre eriçando. Isso é porque aquelas são as mãos de Willis O`Brien movendo a marionete e faz o pêlo mover-se. E o engraçdo daquilo foi algumas pessoas no estúdio disseram: ”Nossa isso não é bom”.
E quando o filme foi lançado um tritico disse:”Esse filme é tão realístico, que pode-se até ver o pêlo eriçando nas costas do macaco. Que coisa fantástica!”.
E então o estúdio disse:”Não, é ótimo, nós adoramos. Esta ótimo”.
Com as marionetes de Kong prontas para a câmera Willis O`Brien trouxe as suas criações à vida com o processo de animação stop-motion que ele havia passado quase 20 anos aperfeiçoando. Ele estava inventando algo fundamental, aquela coisa fantástica de recriar vida à 24 quadros por segundo. E ele é um desses homens que se sentou em sua oficina e descobriu isso. Essas coisas que claramente não eram marionetes com cordas ou movidos por varas sob a mesa ou pessoas em fantasias engraçadas mas que pareciam ter vida própria.
Pode-se dizer que o processo de animação stop-motio, na sua forma mais básica não mudou nem um pouco desde que foi inventado. O esqueleto, ou armação, por dentro é forte o suficiente para manter a posição. Então se mover um braço da marionete vai mover, mas vai manter a posição a onde ela esta. A maneira de dar movimento à marionete ou trazê-la a vida é registrar um guadro do filme e movendo a marionete registrando outro quadro do filme e uma serie sucessiva de quadros dará a ilusão de que ele esta se mexendo. Que é justamente o mesmo principio do desenho animado. Só que ao invés de usar desenhos se usa um modelo.
Animação stop-motion é muito trabalhosa. É um trabalho duro. É um exercício. Mas um dos truques da animação stop-motion é que tem que filmar cada um dos quadros.
Pense em um minuto de filme, se filmasse normalmente. Quanto tempo leva para filmar um minuto de filme? Um minuto, certo?.
Em stop-motion, são 1.440 quadros que você precisa registrar. 1 minuto = 1440 quadros e se estiver indo bem rápido, você consegue fazer 10 quadros por hora. Então se calcular, aquele mesmo minuto em animação por stop-motion pode levar até 150 horas. Só para conseguir um minuto de filme.
E se houver um erro? E se a câmera não funcionar? Ou talvez estejam cansados e disseram: “registramos o quadro ou não? Eu não me lembro, registramos duas vezes?”.
Essas são as fragilidades humanas que influenciam a criação dessas imagens. Isso é algo que teriam que enfrentar. Às vezes, esses homens na equipe de Kong intencionalmente se estivessem de ressaca eles quebravam uma armação para não tarem que ir trabalhar e mandavam para a oficina de maquinas para consertarem.
Alem da marionete, a ferramenta mais importante do animador de stop-motion é o medidor de superfície. O medidor de superfície é uma ferramenta que metalúrgicos usavam para alinhar varias peças antes de começarem a cortá-las no torno ou moedor.
Animadores adotaram o medidor para marcar pontos de referência que monitora o progresso das suas animações, ai retira eles e registra o quadro e os coloca de volta, registra aquela posição e move para a próxima posição. E ocasionalmente são esquecidos. Você está criando uma performance um quadro por vez. Pois não é como animação convencional ou no computador, onde você pode assistir. Você faz e vê o resultado final quando o filme for processado e o devolverem. Se houver uma parte no meio que não está funcionando siguinifica que tem que fazer de novo, um quadro por vez.
A analogia é como dizer a um ator que ele tem que acertar na primeira tomada. Talvez possamos fazer uma segunda tomada mas vamos usar a primeira ou a segunda tomada. E era assim que era com animação stop-motion. Filmagem stop-motion não é para qualquer um. Existe apenas um pequeno grupo de pessoas que consegue agüentar a pressão da paciência.
É muito difícil fazer stop-motion porque você tem que fazer tudo de uma vez. Você não pode parar e vir acender a luz e voltar, porque tudo muda. Por isso eles aprenderam bem cedo que não podiam parar, as luzes não voltavam com a mesma intensidade. Tentaram fazer tomadas em um dia, o que é uma coisa difícil de fazer. E é tudo feito como uma forma de arte, feita no escuro por uma pessoa. Só para uma tomada o animador fica no mesmo lugar por umas 10, 12 ou 15 horas apenas concentrado e quando vê tem esse nível de concentração comparada a um tipo de meditação.
A cena em que King Kong estava lutando com o Tiranossauro eles só fotografavam talvez dois ou três segundos, daquela cena por dia, as vezes menos. Nesse ritmo O`Brien e sua equipe levaram sete semanas para completar a animação da luta de Kong contra o T. rex.
As vezes é difícil completar uma tomada mas o que os faziam continuar era ver aquela filmagem no dia seguinte. Quando um objeto que era inanimado subitamente toma vida. E tinha que ser extremamente criativo e um artista muito bom para fazer corretamente, porque tem que entender como as coisas se movem. Atua-se muito em frente a um espelho e é como: “Acho que devia fazer isso” e bate no peito e descobre como levava três segundos para fazer isso e significa que, a 24 quadros por segundo, isso deveria estar aqui nesse ponto.
Estudar os movimentos de um gorila isso é ótimo, você tem que fazer isso porque é um gorila em aparência. Mas o que fez ele ser um super-gorila? O fato de que ele bate no T. rex. O agarra e o joga sobre seu ombro pode-se ver claramente o histórico de O`Brien como boxeador e o seu interesse em luta transparece naquela cena. Tem até uns socos surpresa que ele dá no T. rex também dos seus velhos tempos como boxeador onde ele acerta ele. E ao matar o T. rex ele vira um macaquinho e começa a brincar com sua mandíbula. Ele o matou e esta brincando com ele. O que motivou o ator Willis O`Brien a fazer isso? Essa é a maneira como ele pensa e foi brilhante.
Não é só pensar em: “O seu braço tem que estar aqui nesse quadro e aqui naquele”. Tem que pensar porque esta movendo seu braço, o que está fazendo com ele e o que sua cabeça esta pensando e tudo isso. Na verdade, os animadores são atores à 24 quadros por segundo. Ele tem que se projetar de certo modo, para dentro dele e essa é a maravilha da técnica de Willis O`Brien da figura única.
Darlyne O´Brien, sua esposa , dizia que podia ver muito de Obie em Kong.
O senso de humor de O`Brien é parte do que deu personalidade em Kong, o que é tão importante e o diferencia de ser apenas um monstro furioso comum.
Uma coisa muito interessante foi na seqüência do elasmossauro. Ele coloca Ann num pequeno esconderijo e vai embora. E o elasmossauro vem subindo pela rocha e ela grita. E corta a cena para Kong virado de costas. Então O`Brien criou algo que o motivou a estar virado de costas. Não da para ver a menos que assista quadro à quadro. Mas ele está abaixado e esta pegando uma flor e a cheirando e presume-se que ele vai dá-la à Ann. Mas assim que a ouve gritar ele se vira. Não é nem algo para a audiência notar. É só uma coisa para o ator ou nesse caso, Kong usar como motivação.
E como qualquer ator, Kong precisava de um palco para atuar. Para ele foi uma serie de mesas de madeira compensada. Haviam muitos furos feitos na superfície da mesa porque uma marionete animada, precisa prendê-la ao chão onde ele caminha. Por isso tem esses tié-downs é como são chamados onde os pés ficam presos porque quando move a marionete se põe muito peso e força movendo a marionete de juntas duras e é preciso que o seus pés fiquem presos na mesa.
Na luta com o T. rex, o Tiranossauro está pulando e tem a cena onde Kong o gira. E nesse tipo de coisa, eles tiveram que pensar em uma maneira de suportar o peso dos modelos e move-los um quadro por vez. E se assistir quadro por quadro da para ver alguns suportes que usaram para evitar que caíssem durante a filmagem.
Na maioria das vezes a mesa de animação estava parcialmente decorada com um cenário miniatura cuidadosamente criada como a vegetação da selva de Kong.
As selvas de Kong são as mais legais que já se viu em um filme.
Eles buscaram um estilo como Gustave Doré onde as imagens em primeiro plano são escuras e as de fundo são claras. Os fundos são brilhantes e as selvas como catedrais. Um visual que é bem de um livro de histórias.
Eles criaram uma técnica especifica para criar arbustos, árvores e rochas.
As rochas e formações de terreno foram feitas de gesso. E as árvores foram feitas de hastes de madeira cobertas de argila e papel de seda laqueado e os arbustos foram feitos com uma combinação de plantas reais posicionadas e certas coisas como palmeiras e samambaias foram cortadas de cobre bem fino. Eles tiveram que colar cuidadosamente todas as pequenas folhas e todos os pequenos cipós e pequenas videiras. Tudo que se vê, tiveram que construir, pintar ou criar com os mínimos detalhes.
O`Brien também usou muitas pinturas de fundo, pinturas que criam a ilusão de profundidade sem os custos de construir sets tridimencionais.
Pinturas feitas em vidro fornecem elementos em primeiro plano. O que existe em uma tomada típica de King Kong são uma ou duas camadas de vidro em frente à câmera com partes adicionais da selva pintada. Como por exemplo cipós, laterais de árvores ou vegetação pendurada. E a câmera fotografa através dessa pintura até o set para criar essa sensação de uma selva profunda e densa que continua indo mais e mais e mais infinitamente.
Em muitos casos, não se usou uma pintura em vidro, mas usou um cenário na frente. Mas era meio inconveniente, principalmente para iluminação se tiver todas as camadas construídas fisicamente, pois elas têm dimensão. Então se construir apenas um ou dois elementos físicos e as camadas na frente disso forem apenas pinturas e vidro isso significa que pode colocar luz entre elas. É muito mais fácil de iluminar.
As pinturas de King Kong foram feitas por uma equipe de artistas talentosos que incluiu Byron Crabbe, Henri Hillinck e um homem que continuaria a  trabalhar ao lado de O`Brien pelos próximos 20 anos.
Mario Larrinaga era um ótimo artista no departamento de arte da RKO e quando O`Brien começou a trabalhar em Creation ele descobriu os seus talentos e o levou para a sua equipe.
O que fizeram em Kong, que foi descoberto estudando as fotografias é que eles não só pintaram em vidro mas às vezes decoravam por cima do vidro. Na base, colocavam pequenos arbustos ou um pouco de folhagens silvestres. E assim tinham um elemento tridimensional para iluminar.
De algum modo, a técnica de pintura em vidro deu um visual distinto ao filme. E então, bem no fundo tinha uma pintura que era o fundo distante.
As varias pinturas e miniaturas de mesa são unidas no estúdio para formar o ambiente tridimensional onde Kong vive.
O cenário típico de Kong teria um vidro em primeiro plano com bordas de selva pintadas ao redor, uma mesa com árvores e arbustos em miniatura. E talvez mais miniaturas da selva que finalmente mistura-se com uma pintura em perspectiva no fundo assim esses cenários de mesa poderiam ter de 2 a 2,5 ou 3,5 metros de profundidade.
Não era uma selva real, era a selva da imaginação. É um lugar muito mágico. Essas selvas pareciam prontas para gerar vida pré-histórica que Willis O`Brien e sua equipe tornaram realidade.
Mas trazer Kong à vida e fazer sua selva em miniatura convincente era apenas o começo do que O`Brien esperava realizar. Sempre foi um sonho de diretores pegar uma cena e colocar diretamente sobre um fundo. Então Willis O`Brien inventoy muitas técnicas para como pegar suas criaturas de stop-motion e misturá-las com atores filmados. A idéia de ser capaz de criar um filme dependendo totalmente dessas técnicas era algo completamente novo.
Existe uma variedade de técnicas diferentes apresentadas no filme e algumas delas são incrivelmente inovadoras. Porque eles não queriam perder qualidade e não haviam técnicas de duplicação que existe hoje eles tinham que fazer muitas coisas em câmera.
Os efeitos em câmera mais simples foram feitos expondo parte do filme e rodando o mesmo filme pela câmera outra vez para expor a outra parte com uma imagem diferente. E o processavam e torciam para que não houvesse nada de errado, que seria uma tomada.
Para tomadas mais complexas combinando filmagem com animação O`Brien usou o processo Williams ou o processo Dunning para produzir o que se chamam “traveling mattes”. Era uma maneira de filmar um ator contra um fundo de cor neutra e então cortar fora aquele fundo e colocá-lo em outro fundo.
O processo Dunning usava um sistema de iluminação azul e amarela filtrada e fotografada em filme preto e branco. Carregando duas tiras de filme na câmera ao mesmo tempo um procedimento chamado de “bipacking”. A imagem final composta era criada na câmera.  E foi usado em King Kong em várias tomadas.
Uma delas é com o avião se chocando com o Empire State Building e os nativos correndo em primeiro plano quando Kong esta lutando com os guerreiros no andaime na Ilha da Caveira.
O processo Williams era parecido com o Dunning mas porque não precisava de luzes de cores especiais podia ser usado para tomadas mais abertas. Kong derrubando os homens do tronco é com o processo Williams e abrindo os portões na vila dos nativos. Os elementos são combinados em uma copiadora ótica ao invés de serem combinados na câmera.
A copiadora ótica era uma coisa nova quando King Kong foi feito. Sincronizava um projetor com uma câmera para que varias tiras de filme fossem combinadas em uma única imagem. Linwood Dunn, do departamento de efeitos fotográficos da RKO havia contruido uma parte do estúdio e queria provar que funcionava.
Lynn Dunn ouviu falar de King Kong, veio e se reuniu com Willis O`Brien e disse: “você não precisa carregar dois filmes na câmera temos uma copiadora ótica e podemos fazer cópias para você”. Foi algo que o Linwood Dunn teve que convencer O`Brien que não precisava compor na câmera.
Quando faz o trabalho na câmera, cada vez que um elemento está errado, a tomada toda fica ruim. Se usar a copiadora filma cada um dos elementos, o primeiro plano, a animação da marionete, o fundo em filmes separados e então os une um por vez na copiadora ótica. Era um sistema bem complexo no inicio de King Kong e pode se ver no filme onde partes do filme estão sangrando através das bordas da sua janela móvel, ou seja da para ver partes de uma imagem sobreposta a outra. Mais isso não importa pois nada disso diminui a magia do filme.
Outro truque para combinar atores com animação era chamado de “projeção ao fundo”.
Tinha um set com seus atores e se colocava uma grande tele atrás deles como uma tela de cinema. E por trás dela tem um projetor, e esse projetor projeta uma imagem na tela. É projetada por trás da tela e a tela tinha que ser transparente. O efeito é que o que estiver naquela tela é agora o ambiente onde estão os seus atores.
Desenvolveram um novo tipo de tela, chamada de “tela Saunders” em King Kong, e foi usada pela primeira vez nas cenas onde Fay Wray está na árvore e King Kong e o Tiranossauro estão lutando ao fundo. A animação foi filmada primeiro e então foi projetada em uma tela e Fay Wray está na árvor reagindo a ela. A vantagem da projeção do fundo é que o ator pode fisicamente interagir com a marionete animada em tamanho real. Eles não têm que usar a imaginação. Não têm que pensar: “lá esta um monstro gigante”. Não, pois estão vendo ele.
Um bom exemplo, quando a tripulação do Venture encontra o Estegossauro a projeção de fundo cria o efeito extremamente convincente por causa da coordenação e da coreografia entre os atores e o que foi filmado projetado na tela, porque o que foi filmado na tela foi o Estegossauro e a bomba de fumaça caindo e explodindo. Aquilo já estava no filme. Então os atores podiam assistir e sincronizar quando atirassem a bomba. E porque estavam coordenados assim foi como:”aconteceu de verdade”.
Muitas dessas técnicas que ele usava de uma maneira nova já eram usadas em filmagens reais. Mas em uma jogada de gênio, O`Brien desenvolveu uma utilidade completamente nova para projeção de fundo que podiam ser colocadas à um quadro por vez assim como a animação. O bom da projeção miniaturizada de fundo é poder usar uma filmagem real que filmou e projetá-la em uma pequena tela montada na miniatura então compor uma tomada em frente a câmera. Essa projeção era feita um quadro por vez e então avança um quadro no projetor e faz a animação na frente, fotografa avança um quadro no projetor outra vez e assim por diante. Mas o desafio era como impedir que um filme projetado derretesse ou pegasse fogo e destruísse tudo, por isso tinha um ventilador mandando ar frio para o filme e mantendo o filme resfriado para que não queimasse ou derretesse. Assim o filme podia ficar ali por horas. Um outro truque que também foi usado na época era quando queriam que uma criatura passasse por trás da tela de projeção. Se pensar nisso, se tiver projeção por trás e a criatura passar na frente da imagem vai se ver a sombra da criatura na tela de projeção. Então a maneira que se usou para contornar isso foi colocando o projetor em um ângulo de 90 graus com a tela. Assim a imagem é refletida do espelho para a tela o que significa que a criatura pode andar por trás da imagem projetada porque nunca vai ficar na frente do projetor.
Através da lente da câmera se tinha uma performance real literalmente na mesma tomada como uma performance animada em stop-motion e eles interagem. E com essas técnicas eles puderam fazer tomadas bem complicadas. Um dos mais belos exemplos é quando Jack Driscoll está na caverna abaixo da beira do precipício e Kong está tentando
Pegá-lo e vemos uma miniatura onde Kong está atuando com uma pequena tela dentro da caverna com uma imagem de Jack Driscoll projetada na tela e foi assim que conseguiram aquela bela interação entre Kong e o ator.
Mas também pode, se for esperto fazer uma ligação entre algo acontecendo na projeção e algo na miniatura. Onde ele coloca Ann em cima da árvore morta quando ele vai lutar com o T. rex, muda de uma marionete de Ann em sua mão para uma Ann projetada que já foi filmada e um cenário daquele galho. E tem que ser esperto para que a marionete de Ann fique na frente do projetor naquele momento e então troca de uma para a outra.
Em muitas tomadas abertas, é claro foi necessário usar uma pequena figura de Fay Wray que tinha cerca de 7 a 10 centímetros de altura. Nas tomadas mais fechadas, construíram uma mão gigante para mostrar a Fay Wray com suas roupas sendo rasgadas pelo gorila. Eles filmaram uma tomada de Fay Wray nessa mão em tamanho real e sua roupa senda rasgada por fios. E aquilo foi projetado por trás do gorila em miniatura e sincronizado para parecer que Kong estivesse rasgando suas roupas. Então existem muitos processos diferentes usados. Tentaram usa-los para que não veja sempre a mesma técnica e a mistura, o que dá uma variedade dos diferentes ângulos para edição. Uma das coisas fantásticas em King Kong são as diferentes técnicas que aparecem em uma tomada. Particularmente na seqüência da caverna onde Kong luta com o plesiossauro temos todos esses elementos juntos ao mesmo tempo. Nesse efeito visual sem precedentes O`Brien incorporou pinturas de fundo, sets em miniatura, água real, pedras em primeiro plano com lama borbulhando, fumaça, animação de marionete stop-motion e duas telas em miniatura projetadas com atores reais.
Artistas de efeitos visuais muito talentosos olharam isso e disseram: “não sei como fizeram”.
É muito, muito, muito complicado. E naquela época aquilo era bem planejado para que pudessem fazer e acertar provavelmente de primeira.
As técnicas revolucionarias de O`Brien lhe renderam uma patente em 1933. ele tem uma patente chamada: “Aparato para produzir filmes” que tem todas as coisas que ele fez em Kong tudo misturado junto em um dispositivo patenteável.

Por isso fazer filmes hoje em dia é coisa de preguiçoso se comparado ao cinema de efeitos especiais de 1933. Aquilo era trabalho de arregaçar as mangas e trabalhar duro.

Eu espero que o stop-motion não morra. Ela tem algo especial. Não necessariamente realística, às vezes, mas ela tem algo mágico. Algo relacionado com sua aspereza e o fato de que essa gente fez isso quadro à quadro dessa maneira.
Basicamente, você tem que saber o que está fazendo, planejar bem e ter nervos de aço quando aproximar-se daquela mesa de animação.

O Kong original inspirou Ray Harryhausen e Ray Harryhausen inspirou outros a se tornarem animadores.

Como disse Newton quando escreveu Principia: “Eu vi mais longe que outros homens porque estive nos ombros de gigantes”. Bem, gente como os últimos filmes de Ray Harryhausen ou Nightmare Before Christmas (O Estranho Mundo de Jack), eles fizeram o que fizeram porque estavam nos ombros de Willis O`Brien.

Foi uma nova Bíblia, pode-se dizer, de fazer filmes de: ”Ei, podemos fazer isso, podemos fazer um grande animal correr”.

Abriu a porta para se fazer todo o tipo de filmes de fantasia e ficção cientifica, mas eles têm que agradecer ao Kong por isso. Todas essas técnicas que ele criou levaram aos sucessos de Hollywood que conhecemos hoje e criaram o ramo de efeitos especiais.

Ele inventou técnicas e métodos que antes da computação gráfica animadores e profissionais em efeitos especiais continuavam desenvolvendo.

Essa foi uma época de pioneiros onde haviam poucas pessoas que entendiam o que eram filmes e muito menos qualquer coisa relacionada com a complexidade de efeitos visuais.

E é isso que é genial em Willis O`Brien. Ele estava sonhando e desenvolvendo os conceitos básicos de como efeitos visuais funcionam, e que são usados até hoje.

As ferramentas agora são digitais, estão no computador, mas os conceitos são os mesmos que naquela época.
Willis O`Brien foi um gênio por olhar para um quadro de filme e ver como poderia dividi-lo e como poderia projetar por trás ou como poderia inserir imagens no topo de uma maneira que foi muito além do que qualquer coisa havia ido antes. “Como posso usar lentes, composição e miniaturas para levá-los a um lugar que não poderia ir de outra maneira?”

Nós nos lembramos do monstro de Frankenstein do filme de James Whale. Nós nos lembramos de Quasimodo de O Corcunda de Notre Dame. E nós nos lembramos de Kong, e Kong é o único desse grupo de grandes personagens das telas que não é um ser humano atuando. Mas sim um efeito especial efetuado por uma marionete de 45 centímetros e pelo homem manipulando a marionete de 45 centímetros.

Que conquista notável que é isso. É a prova de que um filme é o que é não pela perfeição dos efeitos, mas pela soma total da imaginação e da emoção colocada no filme. 



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